terça-feira, 3 de maio de 2011

PT é mais um desafio para Dilma (Editorial)
O Globo



São várias as interpretações possíveis da ousada decisão do PT de reconduzir aos quadros do partido o tesoureiro do mensalão, Delúbio Soares, réu no processo contra a “organização criminosa” criada para lavar dinheiro sujo, em tramitação no Supremo. A ousadia está em arriscar-se a recolocar o caso novamente em circulação.

Pode ser que, vitorioso nas eleições, o partido se sinta imune a tudo, protegido de críticas “burguesas” ao desvio de dinheiro público para lubrificar o esquema de compra de apoio parlamentar ao governo Lula. Entre as justificativas para a reabilitação do companheiro Delúbio está a de que ninguém pode ser condenado a penas perpétuas.

Ora, o ex-tesoureiro sequer foi julgado. O partido, então, avançou o sinal ao assumir cedo demais uma posição definitiva sobre Delúbio.

Ele fora expulso da legenda há seis anos, com o estouro do caso, seguido da cassação do mandato de deputado federal do ex-ministro José Dirceu, líder do grupo no PT a que Delúbio é ligado, e considerado pelo Ministério Público chefe da “organização criminosa” do mensalão, conforme termos da denúncia contra o grupo encaminhada ao STF e acolhida pela Corte.

A única justificativa aceitável é que o partido quer premiar a fidelidade e o silêncio de Delúbio Soares, sem qualquer preocupação com o que a Justiça vier a decidir.

E como está em jogo a lisura no uso de recursos públicos, entre outros, aceitar a ideia de que o ex-tesoureiro cumpriria uma “pena perpétua” equivale a instituir o conceito de uma ética com prazo de validade.

A reabilitação do ex-tesoureiro não é fato isolado. Embalada na mesma operação, conduzida pelo grupo de José Dirceu, veio a eleição de Rui Falcão para a presidência do partido, com a renúncia, por motivos de saúde, de José Eduardo Dutra.

Ligado há algum tempo a Marta Suplicy, em cujo governo na cidade de São Paulo trabalhou como secretário, Falcão teve passagem tumultuada no comitê eleitoral de Dilma Rousseff, acusado de participar da confecção de dossiês contra o tucano José Serra e familiares.

O PT, com mensaleiros e aloprados, parece ganhar um perfil desafiador para o próprio governo. Cabe lembrar a tese de José Dirceu, fortalecido por essas mudanças, exposta a metalúrgicos na Bahia, de que Dilma no Planalto facilitaria a execução do “projeto do PT”, difícil de executar no governo Lula, por ser o ex-presidente maior que o partido.

Deve, portanto, a presidente Dilma esperar investidas do partido em busca de espaços perdidos para o PMDB e outras legendas. Afinal, é parte do “projeto do PT” a partidarização do Estado, como se viu em oito anos da Era Lula.

Deverá, ainda, haver mais liberdade no partido para a letal mistura de negócios com política, de que são provas ligações cultivadas por Delúbio com o mercado imobiliário, a partir de um dos braços do sindicalismo financeiro do partido, a Previ, como revelado pela revista “Época”.

Fortalece-se, ainda, na legenda, o projeto de um capitalismo de Estado à la Geisel, com empresários escolhidos a transitar pelos cofres do BNDES. Do projeto fazem parte intervenções descabidas em empresas privadas, iguais à executada na Vale. Não se preveem momentos tranquilos para o Palácio.

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