Famílias de Pagot e Maggi estavam em grupo investigado pela PF nos anos 70
Alana Rizzo (Correio Braziliense)
No início da década de 1970, o Serviço de Informação da Polícia Federal demonstrava preocupação com um grupo que definia como criminoso no oeste do Paraná. Mais precisamente em São Miguel do Iguaçu, a poucos quilômetros de Foz do Iguaçu. A organização, segundo registros da época, roubava terras de pequenos agricultores, comprava vereadores e se envolvia com o tráfico de drogas.
Os documentos, obtidos com exclusividade pelo Correio, revelam que a relação entre o senador Blairo Maggi (PR-MT) e o diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) é de longa data. É hereditária. O grupo investigado pela PF era capitaneado por André Maggi, pai do parlamentar, e pelo ex-prefeito da cidade Ferdinando Felice Pagot, pai do funcionário do Dnit que protagonizou a crise instalada nas últimas semanas no Ministério dos Transportes.
“O grupo Maggi é formado por capitalistas que continuam fazendo reuniões secretas onde são vinculados (sic) que os mesmos já dispõem de 800 mil cruzeiros para comprarem oito vereadores através do voto, pois um já é deles, João Batista de Lima, que é despachante do Detran e foi eleito anteriormente usando documentos do Detran e outras promessas”, revelam os despachos dos agentes do serviço de informação, que acompanharam de perto a rotina dos políticos e dos empresários da cidade entre 1969 e 1979.
Os documentos narram ainda a aprovação de uma lei na Câmara de São Miguel do Iguaçu em março de 1976, com a finalidade de atualizar o sistema tributário do município. Os únicos beneficiários seriam André Maggi, Arlindo Cavalca, Ferdinando Felice e mais seis moradores. Cavalca é fundador da empreiteira Cavalca, que aumentou em mais de 1.000% o valor dos contratos com o Dnit entre 2009 e 2010, conforme revelou o Correio.
Segundo a PF, a organização era composta por membros do extinto PTB gaúcho e contava com a colaboração do vereador eleito João Batista de Lima. “Há fontes que dizem que João Batista participa de reuniões secretas realizadas na casa de Ferdinado Felice Pagot e André Antonio Maggi”, dizem os agentes, completando que o parlamentar recebia propina. “Esse dinheiro é para derrubar projetos que o prefeito apresentar à Câmara e tentar comprar votos dos demais vereadores.” Os agentes reforçam, ainda, ligações de Batista com o trafico de drogas.
Jagunços
A informação nº 00229 de 1977 define o pai de Blairo como um elemento político integrante dos ex-partidos PTB e PSD, vereador pelo PTB, com Francisco Kontorski e Arlindo Cavalca. Durante as atividades em uma serraria, logo que chegou à cidade, teria contratado o serviço de jagunços. “Conseguiu ficar rico e ludibriar tomando terras do cidadão Joes Fabris.” Em 1963, teria procurado um falsário, pegado dinheiro falso e distribuído na Argentina. No ano seguinte, acabou preso após tomar terras de algumas famílias. Chegou a mandar incendiar a casa de uma delas.
Já Ferdinando Felice Pagot, ex-prefeito, é tido como agitador político. Depois de pedir o afastamento da Arena, teria comandado adeptos contrários ao partido. Maggi e Pagot têm origem no Rio Grande do Sul, mas ambos participaram do processo de interiorização e migraram para o oeste do Parana. André Maggi chegou com os filhos — Blairo ainda bebê — sem dinheiro. Virou vereador e presidente da Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu. O segundo prefeito da cidade foi seu primo Nadir Maggi.
A relação entre os filhos não foi diferente. Luiz Pagot foi secretario de governo de Blairo Maggi, coordenador de campanhas eleitorais e só conseguiu o cargo no Dnit pelo apoio do amigo. Pagot chegou a ingressar na carreira militar, mas pediu desligamento em 1982. A Marinha nega que ele tenha atuado em órgãos de repressão ou no serviço de inteligência. Procurados pela reportagem do Correio, nem Blairo Maggi nem Luiz Antonio Pagot retornaram as ligações.
Comentário meu: O Rei está nu.
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